O desejo de “felicidade plena e duradoura” e a preocupação com a qualidade da “vida que se vive” já era presente no pensamento das pessoas, dos cidadãos, mais precisamente, desde a Grécia Antiga.
Expressão desse desejo pode ser vista desde então no pensamento de
Sócrates (470 - 399 a.C.), cujo foco principal era exatamente a preocupação de viver bem e, para tanto, privilegiou o “saber” – acerca das coisas de si mesmo e também das coisas exteriores ao eu – como caminho para uma vida com qualidade e a consequente felicidade daí decorrente e não das coisas materiais.
Uma metonímia da expressão desse desejo fica evidente na resposta proferida por
Diógenes de Sínope (413 - 323 a.C.), a Alexandre Magno, quando abdicou da oferta de poder e de bens materiais, pedindo-lhe que não lhe fizesse sombra.
A preocupação com a identificação dos elementos fundantes da felicidade também está presente no pensamento de
Aristóteles (384-322 a.C.). Este classificou-os e hierarquizou-os numa escala crescente que vai desde os prazeres corpóreos e imediatos até a gratificação que decorre da aquisição do conhecimento, lembrando que feliz seria aquele que conseguisse integrar essas satisfações pessoais.
Aristipo (435 - 366 a.C.) aluno de Protágoras e, mais tarde, discípulo de Sócrates, complementou o pensamento aristotélico afirmando que a felicidade seria o resultado que viria do afastamento de toda e qualquer forma de sofrimento. (Para ele o prazer era o bem supremo e a dor, o mal supremo.)
Já
Epíteto (55 - 135), pode ser considerado pioneiro dos atuais conceitos de Qualidade de Vida, pois passou sua vida inteira refletindo sobre a felicidade e suas causas.
Promoção da Saúde
Podemos considerar Plotino (270 – 205 a.C) o filósofo pioneiro dos atuais preceitos da Promoção de Saúde, e do Pensamento (Consciência) Ecológico (a), pois, de acordo com nossa leitura preliminar, nos apareceu como o primeiro filósofo a postular que só é possível atingir o sentimento de completude e plena felicidade se o indivíduo se propuser – de forma voluntária ou não – integrar-se ao kosmos (a vivência de uma experiência mística, presente em muitas religiões orientais).
Semelhante ao pensamento de Plotino, o Idealismo apresenta as bases para o entendimento do pensar consciente cuja expressão mais famosa é o cogito de René Descartes (1596 – 1650), reflexão esta que influencia até hoje o Senso Comum, o qual tende a interpretar como “correto” e “de bom tom “ tudo aquilo que é guiado pela razão.
O também idealista Hegel (1770 – 1831) deu sua contribuição para aquilo que atualmente chamamos de promoção da saúde: o conceito hegeliano “idéia pura”, nos parece muito interessante fundamento para uma noção dinâmica que permite promover a saúde de forma não atemporal e, portanto, sem corrermos os riscos de uma fossilização ou um engessamento da noção Promoção de Saúde.
Parafraseando Gaarder (1995:393), VEM “se reflito sobre o conceito de “ser saudável” não tenho como deixar de lado da minha reflexão o conceito oposto, ou seja, o “não ser saudável”; a tensão entre ser saudável e não sê-lo (ou até mesmo ser doente) poderá ser resolvida pelo conceito de “transformar-se” , o que, segundo nosso entendimento, incluindo nisto as experiências colhidas na práxis da clínica psicológica, reúne um potencial para promover saúde.
Cabe ressaltar o que já apontamos na introdução deste trabalho: para Hegel a razão é algo dinâmico, um processo; a verdade é mutável, de acordo com o momento e o contexto histórico, e não é outra coisa senão aquele mesmo processo, de forma que, para este filósofo, não podemos separar um pensamento de seu contexto histórico. Entendemos ser, esta última afirmação, mais uma contribuição desse pensador para o conceito “Promoção à Saúde”: como a “verdade” de Hegel, esta também é um conceito dinâmico; portanto precisa ser definida e redefinida a cada momento histórico procurando entrar em acordo com o contexto, demandas, diagnósticos, necessidades, etc. em questão. Assim, entendemos “Promoção da Saúde” como um conceito dialético que deve ser devidamente refletido a cada nova situação.
Psicologia Positiva & Psicoterapias
Sêneca (4a.C.- 65 d.C.) pode ser considerado precursor da Psicologia Positiva: em A Tranquilidade da Alma, constata as causas empíricas que respondem pela inquietação da alma e impedem o a tranquilidade.
Santo Tomás de Aquino (1225 - 1274) ao procurar unir fé e razão, o que talvez seja a das primeira interdisciplinaridade¹ e entendemos que sua filosofia serve para mostrar a importância da crença religiosa; da prática dos de sé, para resgatar exatamente o que confere ao ser humano sua humanidade.
Uma outra grande contribuição para as ciências humanas veio do Positivismo, escola que estabeleceu rígidos critérios para Ciência, obrigando que esta tomasse como base a observação dos fatos: para muitos autores, a melhor expressão disto é a metodologia adotada por Wundt..
Portanto, Isidore Auguste Comte (1798 – 1857) acaba por influenciar toca a Ciência, em particular os conceitos de Promoção da Saúde e de QV que sejam cientificamente formulados pois, com a estratificação das ciências, a introdução da “Física Social” (Sociologia) e também com a adoção de rígidos critérios para as ciências humanas – tratar os fatos sociais como coisas – acabou por criar as condições para o surgimento da Psicologia Experimental com Wundt, que, mais tarde, influenciaria Watson (Psicologia Comportamental), Skinner (Behaviorismo Radical) e, mais recentemente as psicoterapias de orientação cognitivo-comportamental.
(No entanto não podemos deixar de mencionar que Comte também influenciou negativamente o desenvolvimento da Psicologia: é dele a frase “não podemos estar à janela e ver-nos passar à rua; no teatro não podemos ser, ao mesmo tempo ator e expectador na sala”, que ilustra o verto positivista à introspecção em todas as suas formas. Diz a respeito, Maria Lúcia Aranha: “Esse veto pesou sobre a psicologia desde a metade do século XIX, o que nos faz perguntar, como, apesar dele, a psicologia conseguiu se constituir em ciência.” (Aranha,1989:188)
Nos conceitos que compõe o Empirismo, notamos mais uma importante contribuição para os conceitos aqui estudados: o método empírico é um dos – senão o principal – método que influencia o conhecimento científico até os dias atuais, e, por conseguinte, ações de promoção à saúde que sejam cientificamente orientadas.
É claro que qualquer ação que tenha por objetivo promover a saúde e melhorar a qualidade de vida das pessoas de forma eficaz e duradoura deve ser cientificamente orientada. Sendo assim, a influência do método empírico é evidente, desde o Relato de Caso Clínico² ou da Pesquisa Básica³ até os Estudos de Coorte4.
O conceito atribuído ao filósofo empírico John Locke (1632 – 1704) por Aranha (1986), qual seja, “o que ocasiona a produção de uma idéia é a qualidade do objeto”, se for tomado no sentido inverso – a qualidade de um objeto [desejado] ocasiona a produção de idéias simples – pode ser esclarecedor acerca da gênese de ações automotivadas (o conceito de flow5, p. ex.) que encaminhem para uma vida com qualidade...
Observamos que muitos conceitos que pertencem à Psicoterapia Racional e Emotiva de Albert Ellis,à Psicologia Centrada na Pessoa de Carl Rogers, à Psicoterapia Cognitivocomportamental, de Aaron Beck e outros e à Psicologia Positiva de Marin Seligman e outros, sofrem influência das idéias de Locke.
Já para a corrente de pensamento opositora do empirismo denominada Racionalismo, à qual pertence David Hume (1711 – 1776), “nenhuma filosofia que não aquela a que chegamos pela reflexão sobre o nosso cotidiano é capaz de nos conduzir para além dessas mesmas experiências cotidianas” (Gaarder, 1995:288). Embora a realidade, atualmente, não seja composta somente pelo mundo natural6, a noção de uma aplicabilidade imediata de uma atividade intelectual – a psicoterapia, por exemplo – na vida quotidiana, (mas sem os descaminhos que, mais tarde, o utilitarismo7 nos ofereceu) nos parece uma influência importante no sentido de promover saúde e da qualidade da vida das pessoas.
O expoente maior do pensamento do Iluminismo foi Immanuel Kant (1724 – 1804).
Entendemos que a sua segunda grande questão, (como agir diante do semelhante a fim de atingir o bem supremo) é, ao mesmo tempo uma grande contribuição para a Filosofia e também para a Psicologia. Trata-se, ao nosso ver, dei um conceito central, presente em todas as psicoterapias cognitivas, na psicologia positiva e, para nós, fundamental para uma psicoterapia voltada para a qualidade da vida das pessoas.
Primeiro, relembrando o que foi dito anteriormente, um acordo entre a felicidade e a virtude, no qual e do qual surgiria um sujeito ‘completo e absoluto’, em A Dialética. Isto, a nosso entender, se assemelha à citado contribuição de Santo Tomás de Aquino e aponta que o que Aquino propôs é viável, embora a plenitude da felicidade seja inatingível, segundo Kant.
Segundo, a inovação de Kant - diferença que estabelece entre as coisas em si e as coisas para nós – é um conceito que permite ao sujeito não somente a reconstrução da sua realidade, caso esta lhe seja desfavorável, mas também lhe dá a possibilidade (e a liberdade) de buscar uma “outra visão” acerca de um objeto ou fenômeno que, por ventura esteja sendo percebido como aversivo, desfavorável, negativo.
Estes são dois conceitos kantianos que coincidem com o espírito dos conceitos fundantes da Psicologia Positiva. Podem ser muito bem aproveitados nas ações que visam melhorar a qualidade da vida vivida pelo sujeito e, assim fazendo, contribuem para a promoção da saúde.
Para promovermos saúde, o espírito enunciado na tratativa da questão da ação humana (sublinhada acima) é de importância central. À semelhança do raciocínio de Kant e também admitindo que o objeto é regulado pela faculdade do conhecer – e não o contrário – lembremos que os princípios a priori devem ser investigados (estudados) pois, como nos ensinou Kant, estes seriam os responsáveis pela síntese de dados empíricos.
Lembrando a Física, se, por semelhança dos conceitos, imaginarmos que o modo de viver – estilo de vida – pode ser considerado uma soma do tipo “vetorial” de opções feitas por aquele que vive, isto é, de uma soma de juízos sintéticos a posteriori, empíricos portanto, poderemos intuir, com base no pensamento de Kant, que, se quisermos promover de fato a saúde, é preciso viver de acordo com imperativos categóricos de saudáveis8.
Pelo que foi acima exposto, podemos concluir:
Para o presente artigo, é importante destacar que na Dialética, Kant afirma que o “sumo bem” (Deus) é definido como “um acordo entre a felicidade e a virtude, no qual e do qual surgiria um sujeito ‘completo e absoluto’. No entanto demonstrou que o desejo de felicidade,(causa motora para o máximo de virtude) é impossível; também demonstrou que a virtude máxima, seria decorrente da máxima eficiência do sentimento de felicidade também é impossível “porque no mundo reina uma conexão de causas e efeitos que não se conforma com as intenções morais da vontade”.(Os Pensadores - Kant, 1996:16).
“Na parte final Crítica da Razão Pura, Kant afirma que a razão não é constituída apenas por uma dimensão teórica que busca conhecer ( e ultrapassa os limites do conhecimento) mas também por uma dimensão prática, que determina o objeto mediante a ação.”
No nosso entender, as conclusões acima enunciadas são importantes para nossos propósitos pois:
(a) apontam que não basta somente o entendimento teórico;
(b) mostra que existe um caminho, cujo ponto de partida é a robustez do conhecimento puro (a priori) que leva para a aplicação prática desse conhecimento e o sentimento consequente é de felicidade;
(c) coloca como objetivo essencial da natureza humana atingir a felicidade;
(d) estabelece uma associação entre felicidade e virtude e, finalmente, (e) ao mostrar que a felicidade suprema e a virtude suprema são impossíveis, retira do mundo das idéias as ações que visam atingir a felicidade, e as coloca no plano do realizável pelo ser humano comum, tendo a utopia da felicidade suprema como norte.
Entendemos que ações de uma Psicoterapia Cognitiva que seja centrada na qualidade da vida de uma pessoa deve ter o mesmo espírito apontado por Kant, ou seja, não deve se restringir somente à dimensão teórica das discussões que ocorrem no interior das salas de atendimento dos consultórios.
Antagonista
Antagonista do Positivismo, o Pensamento Fenomenológico contribuiu para a busca de uma vida melhor e mais feliz com uma riqueza de valor inestimável, sendo que está longe de nós a pretensão de esgotar o tema - se é que isto é possível – em um trabalho preliminar como este. Por isto, destacamos apenas alguns pontos que, para este estudo entendemos que merecem ser citados.
Primeiro ponto, a contribuição que até hoje constitui a base das psicoterapias de orientação fenomenológicas existenciais: a criação do método da “redução fenomenológica”.
Tendo em vista os conceitos inerentes à definição de Qualidade de Vida, uma outra grande contribuição da do pensamento fenomenológico, tanto para a Psicologia (Experimental; Comportamental; Cognitiva e Positiva) e para as psicoterapias (de qualquer orientação) também é um de seus principais conceitos: a INTENÇÃO, que é entendida como “tendência para algo; característica apresentada pelo indivíduo quando a consciência está orientada para um objetivo”.
Outro ponto, de valor inestimável para a psicopatologia devemos a Karl Jaspers (1863 – 1969).
Este médico, que também era filósofo, já no início do 2º capitulo do seu tratado Psicopatologia Geral, nos ensinou diferenciar o normal e o patológico, uma distinção que já é difícil em saúde mental e se torna ainda mais difícil se quisermos identificar a “normalidade” ou “anormalidade” de um estilo de vida.
Jaspers também dá uma importante contribuição para o que hoje chamamos de Psicologia Positiva, na primeira sessão do capítulo dois da mesma obra citada acima, ao deixar clara a importância das vivências positivas, como dissemos acima.
O Pensamento de Kant pode ser aplicado aos conceitos “promoção de saúde” e “qualidade de vida”.
Considerando os conceitos kantianos acerca do conhecimento: este é constituído de matéria e forma, o pensador distingue duas formas de conhecimento: a primeira é o CONHECIMENTO a posteriori (conhecimento empírico) e a segunda é o CONHECIMENTO a priori (conhecimento puro).
Os primeiros, são os conhecimentos que surgem a partir dos sentidos e compõe as experiências sensíveis. Por exemplo, a frase: “A porta está aberta”.
Os segundos, são conhecimentos que não dependem de nenhuma experiência que envolva os órgãos dos sentidos. Por exemplo, a frase “A linha reta é a menor distância entre dois pontos.”
Kant também define dois tipos de juízos: o JUÍZO ANALÍTICOe o JUÍZO SINTÉTICO.
No juízo analítico o predicado já está contido no sujeito. Exemplo: o conceito de corporeidade contido na frase “Os corpos são extensos.”
Os juízos sintéticos unem o conceito expresso pelo predicado que se refere ao sujeito constituindo um único tipo de julgamento. Exemplo: a idéia que se depreende da frase “Todos os corpos se movimentam.” em um contexto específico.
Da combinação dos conceitos acima descritos, Kant postulou que o juízo que genuinamente contribui para o conhecimento humano é o conhecimento sintético a priori.
Partindo dos conceitos acima assinalados, vamos aplicá-los primeiramente ao significado da expressão “promoção da saúde” e segundamente à expressão “qualidade de vida!” a fim de verificarmos de qual tipo de juízo se trata cada uma. para tanto, buscaremos as palavras chave de cada uma das expressões como descrito abaixo:
(1) PROMOÇÃO DA SAÚDE
Promoção da saúde -> a saúde é promovida ou a saúde promovida -> a saúde (como um todo) é promovida -> a Saúde é promovida -> Saúde & desenvolvimento.
Sujeito: Saúde
Predicado: é promovida.
Não se pode pensar em saúde sem pensar em Saúde (instituição); sem incluir a idéia de promoção ou desenvolvimento pois um ser saudável necessariamente se desenvolve e, se não o faz, não é saudável.
Portanto, a expressão é um juízo sintético a priori.
(2) QUALIDADE DE VIDA
Qualidade de vida -> vida com qualidade -> viver com qualidade.
Cabe aqui perguntar: o que é viver?
Do dicionário, vem:
(i) viver = estar com vida ou existir;
(ii) viver = modo de vida. -> aqui o conceito depende das experiências sensíveis do sujeito;
(iii) viver = habitar, morar; local onde se vive. -> aqui o conceito também as experiências sensíveis estão envolvidas.
Portanto:
- Quando a expressão assumir o significado de existir, trata-se de conhecimento a priori;
- Quando significar o modo de viver, trata-se de conhecimento a posteriori
- Quando significar ou se referir ao local onde se vive, trata-se de conhecimento a posteriori.
Considerando o que foi deduzido acima a partir dos conceitos de Kant, a “promoção da saúde”, como é atualmente entendida, pode ser considerado um juízo sintético a priori e, portanto, agrega conhecimento verdadeiramente importante e sua apreensão é universal.
A busca da felicidade e do bene vivere assume importância central no pensamento da humanidade desde a Antiguidade
É provável que, de uma forma intuitiva e indisciplinada, os seres humanos sempre debruçaram seus pensamentos sobre “viver bem” e “ser feliz”. Porém, de acordo com esta leitura preliminar, foi somente na antiguidade grega que o ser humano passou a fazê-lo de forma sistemática e, para tanto, fez várias experiências, desenvolvendo diversos “estilos” de viver.
As primeiras reflexões deste tipo mostravam que a busca da felicidade deveria ser individual (Sócrates). Mais tarde, vieram as convicções que essa busca deveria partir do indivíduo mas, sem a inclusão dos seus semelhantes, (caminhando no sentido do indivíduo para a polis) não seria possível alcançá-la por completo.
Ainda na Grécia Antiga notou-se que o conceito de felicidade e bem viver plenos não poderiam ser alcançados somente como ações individuais: para o ser humano se sentir completo e feliz depende do reconhecimento e da interação positiva (saudável) com outros seres humanos.
Este conceito evoluiu em ziguezague ao longo dos séculos, culminando nas recentes diretrizes da Carta da Conferência Global para Promoção da Qualidade de Vida (México, 1999) que inclui de forma definitiva ações transdisciplinares para atingirmos o conceito “saúde para todos”.
Qualidade de vida é objeto que pertence tanto ao Conhecimento Científico, como ao Conhecimento Filosófico e também ao Senso Comum.
Quando a expressão qualidade de vida assume o significado de “estar com vida” trata-se de conhecimento puro; objeto e objetivo das ciências médicas; pertence, portanto ao Conhecimento Científico.
Quando se refere a “existir”, também é considerada conhecimento puro e é objeto da Filosofia e, portanto, pertencente ao Conhecimento Filosófico.
Quando se refere a “habitar” ou ao “local onde se mora” depende de experiências sensíveis e é considerado um conhecimento a posteriori.
O mesmo ocorre quando se refere ao “modo de vida”, constituindo-se num juízo sintético a posteriori por excelência. Assim estas duas formas pertencem ao Senso Comum.
O modo de viver, a qualidade e o estilo de vida dependem das escolhas individuais
O modo de viver depende de escolhas, instintivas, conscientes ou inconscientes do sujeito.
Valores do contexto social podem determinar, em parte ou na totalidade, essas escolhas. Isto irá depender de uma constelação de fatores que parecem estar ligados ao instinto – no caso dos animais e dos humanos – e às crenças centrais9, no caso específico de humanos.
No caso dos seres humanos, a formação de valores e crenças centrais parecem não depender somente das experiências sensíveis, mas também dos valores pertencentes ao contexto social e à época em que o indivíduo está vivendo. Experiências, valores e costumes parecem atuar como vetores que, somados à personalidade e à presença ou ausência de saúde mental, resultarão nas escolhas feitas por esse indivíduo.
Caso essas opções sejam feitas somente com base na satisfação imediata das necessidades primárias – busca de prazeres imediatos – não agregarão bagagem ou conhecimento algum à humanidade, por se tratarem de juízos sintéticos a posteriori. Terão vida efêmera e satisfatória apenas para um indivíduo.
Dependendo do grau de discernimento alcançado por esse indivíduo que os conhece de forma lúcida (sujeito cognoscente), as supra citadas escolhas tornar-se-ão valores individuais capazes de influenciar o surgimento de novas crenças, e assim sucessivamente até que o sujeito construa seu próprio código moral ou uma cultura individual (única).
Ao contrário, se as opções do sujeito tiverem como objetivo o ethos, (bem estar global e duradouro para si, para os demais e para o planeta) e não estiver buscando satisfação necessariamente imediata, o resultado obtido será o sentimento de felicidade genuína. E por se tratar de um juízo sintético a priori, é universalmente reconhecido e agrega bagagem à humanidade.
Finalmente, entendemos que esta última forma de escolha deve vir a ser o imperativo categórico de qualquer prática psicológica ou psicoterapêutica que esteja, de alguma forma – curativa ou preventiva – voltada para a qualidade da vida do sujeito que dela se beneficia.
Por último, caro leitor, lembrando a sistematização das ciências feita por Comte, deixamos a seguinte indagação: – Seria o Pensamento Ecológico aplicado à a Promoção da Saúde, a mais recente evolução na ordem cronológica do Conhecimento Científico nas ciências da Saúde?
1- O relato de um ou de uma série de casos clínicos costuma ser o primeiro passo para um fenômeno ser pesquisado através do método científico.
2-
A Pesquisa Básica ou - pesquisa com animais - costuma ser um dos primeiros passos para testar a eficácia de uma intervenção (droga ou procedimento) em saúde.
3-
Um Estudo Longitudinal (Coorte) permite verificar, ao longo do tempo a influência de determinado fator na etiologia de doenças ou a eficácia de determinado procedimento ao longo do tempo. Podem ser retrospectivos ou prospectivos..
4-
Flow =fluir: vivencia, na qual o sujeito experimenta envolvimento “total”, a plenitiude em uma tarefa que tenha objetivos claros e seja desafiadora; que exija habilidade, concentração e que tenha feedbacks imediatos. (cf. Martin Seligman, 2004)
5-
O mundo virtual, por exemplo,que é tão real como o natural, embora não seja concreto.
6-
Utilitarismo: pensamento filosófico no qual o critério de verdade fundamenta-se na utilidade da coisa: se é útil, então é verdadeiro.
7-
“Saúde” e “saudáveis”, à semelhança de felicidade, são aqui tomados como conhecimento puro, que, como tal, é universal.
8-
Crença central aqui utilizada no estricto sensu, conforme Albert Ellis (1999).