Qualidade de Vida, segundo a Organização Mundial da Saúde é “a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ela vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. (OMS, 2006)
Para muitas pessoas, uma boa Qualidade de Vida tem significado uma vida boa, sendo confundida com posse de bens materiais, caros e de boa qualidade tais como moradia em bairro nobre, casa de campo ou de praia, objetos de ótima procedência, festas e/ou férias maravilhosas, muito lazer e pouco trabalho ou até mesmo horas e horas de ócio.
Nesse caso, a qualidade de vida passa a ser entendida como "o nível alcançado por uma pessoa na consecução do seu plano de vida , de uma forma hierarquizada e organizada " Depuy in Silva, M. 2005) . Qualidade de Vida passa, então a ser usada em um sentido ainda mais restrito: diz respeito, portanto, ao grau de limitação e desconforto que a doença e/ou o tratamento acarreta à paciente em questão.
Assim, ser saudável não significa apenas não estar doente: além de não estar doente, significa poder alcançar um estado de satisfação e plenitude consigo mesmo e com a vida diária. É ter condições de criar e fazer desenvolver um estilo de vida capaz de promover aspectos positivos inerentes a qualquer coisa: indo desde um ato simples como se sentar corretamente até comportamentos muito complexos tais como o relacionamento amoroso, os papéis familiares, coordenação e administração de equipes de pessoas. É ter um dia-a-dia prazeroso não permitindo a rotina de forma que o torne maçante, mas sim criativo e estimulante; É desenvolver atividades diárias no sentido da promoção da saúde tais como:
Garantir uma boa alimentação, o que significa não só quantidade adequada e boa qualidade dos alimentos, mas criar condições - mentais temporais e corporais - para a absorção integral dos nutrientes;
Incluir atividade física, para combater o sedentarismo e favorecer a saúde física e mental;
Evitar aderência a hábitos nocivos tais como alcoolismo, tabagismo, toxicomania; consumo elevado de cafeína, comer nas horas impróprias;
Conseguir administrar os estresses inevitáveis da vida quotidiana, aprendendo a lidar com as angústias atuais para utilizá-las como base para o crescimento futuro.
Permitir-se o lazer e o descanso sem culpas ou desculpas;
Aprimorar constantemente as relações interpessoais no amor, na família, no grupo de amigos e no trabalho.
Observamos que todas as modalidades citadas por diversos (Bernar Rangé, para citar um exemplo) autores até mesmo as terapias cognitivo-comportamentais funcionavam somente restritas no(s) sintoma(s), isto é, agiam de maneira somente curativa, focalizadas no sintoma e/ou na doença, procurando minimizá-lo.
Assim sendo, não adotam como foco os aspectos saudáveis da pessoa (mas sim a disfunção) deixando, portando de reforçá-los.Também deixavam de fora atitudes e ações preventivas, preconizadas pelos conceitos da Promoção da Saúde, em particular, os aspectos ligados à Qualidade de Vida das pessoas.
A Terapia Comportamental Centrada na Qualidade de Vida é um dos instrumentos da Medicina Comportamental proposta por Leite (2004) e tem como principal objetivo auxiliar uma pessoa na busca de resultados positivos no seu dia-a-dia criando ou desenvolvendo seus aspectos saudáveis de forma que Felicidade deixe de ser um conceito - muitas vezes utópico - para se tornar uma realidade a ser vivida diariamente nos diversos papéis que sua vida atual exige. É orientada em metas e focalizada nas potencialidades do indivíduo e nas soluções que ele possa vir a apresentar. Os problemas, em segundo plano, consequentemente serão superados ao longo desse processo.
Busca atuar em duas frentes: (a) focaliza a patologia, buscando uma eliminação (ou minimização) do sintoma; (b) simultaneamente identifica os aspectos e os potenciais saudáveis do paciente, buscando a potencialização destes bem como o reaprendizado da maior valorização dos seus potenciais em detrimento das deficiências. Propõe que o objetivo a ser perseguido seja a identificação e o melhor possível desenvolvimento das atuais potencialidades do indivíduo. Para isso procura trabalhar as potencialidades (aspectos saudáveis) conjuntamente com ações que visam à minimização do(s) sintoma(s) através do desenvolvimento das mesmas potencialidades do indivíduo que, embora tenha chegado com a expectativa de somente receber o auxílio, já a esta altura é convidado a ser co-autor do seu tratamento.
Por outro lado e, secundariamente a minimização da sintomatologia inerente ao transtorno pode admitir outras abordagens simultâneas à "terapia principal" (co-terapias); terapêuticas multidisciplinares em alguns casos ou multiprofissionais em outros.
"Qualquer que seja a forma, a linha ou a escola psicoterápica, há necessidade de se estabelecer entre cliente [paciente] e terapeuta, e vice-versa, uma união de trabalho. Greenson e Wexler; Fiorini [e outros autores] mostraram a importância da 'aliança terapêutica' (working aliance) para o sucesso de qualquer psicoterapia" (Fonseca Filho, 1980: 126).
Assim concebida, a TCCQV parte do mesmo princípio que a justifica: conceber o ser humano como um organismo “total” que o conhecimento científico, (em particular na Medicina e na Psicologia) sabe que não se pode estudar parceladamente e também sabe que não podemos chegar a qualquer compreensão do ser humano total a não ser que utilizemos um artifício, qual seja o de proceder “como se” o ser humano pudesse ser dividido e estudado em partes – artifício este denominado método da análise – e, depois de estudadas e compreendidas em profundidade as “partes”, combiná-las, construindo, assim, um fac-símile abstrato – porém cientificamente útil – do todo original. Esta metodologia, denominada Método Científico, que, sabemos, tem dado inquestionável contribuição para o conhecimento científico, especialmente a Psicologia.
Considerando as afirmações acima, este trabalho pretende se situar no segundo aspecto da citação acima: no estabelecimento de relações entre quatro conceitos aceitos pelas ciências da saúde, a saber: 1º) “Saúde” na acepção mais abrangente; 2º) alguns dos principais princípios da Psicologia Humanista de Carl Rogers; 3º) os princípios fundamentais da Psicologia Positiva criada por Martin Seligman desde 1999 e 3º) o conceito de Qualidade de Vida definido pela Organização Mundial da Saúde, tendo como objetivo a s diretrizes da OMS que vem sendo traçadas desde Alma-Ata, (1978), passando por Altamy
Comportamentos Potencialmente Comprometedores (CPC) são comportamentos emocionais, geralmente ações automáticas ou inconscientemente praticadas, portanto frutos de pensamentos automáticos. Se lembrarmos a definição de emoção de Machado (2005:275) o CPC seria um componente periférico da emoção vivenciada pelo indivíduo e levada ao ato pelo pragmatismo deste.
Frequentemente que foram pela pessoa aprendida, construídos e/ou mantidos de forma inconsciente. É o componente periférico da emoção.
Assim, a pessoa vai vivendo, apresentando para a vida de forma muitas vezes despercebida, respostas que na grande maioria das vezes, são as principais responsáveis por disfunções que podem ir desde uma simples exacerbação das dificuldades quotidianas até o aparecimento de uma doença crônica.
Uma vez identificados, tais comportamentos serão eliminados através de uma abordagem colaborativa que tem por objetivo criar novas estratégias de ação. Uma vez testada e constatada a eficácia, a nova estratégia passará a ser adotada de forma espontânea.
A relação com o psicoterapeuta é o ponto central desta abordagem: desde o rapport o terapeuta visa estabelecer um vínculo profissional, porém permeado de afeto e, como ensina Carl Rogers, aceitação incondicional. Esta abordagem propõe desde o início ao paciente que a unidade funcional passe a ser composta também por ele, transformando-o de paciente "passivo" em agente colaborador do tratamento que deve ser dirigido pelo psicoterapeuta.
(Publicado em agosto/2006. Atualizado em fevereiro/2010)